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AMORES DE ESTAÇÃO

 

Conto ficcional inspirado livremente no conto “Amor de Trem, de Ônibus, de Toda Horas”, de Laio Rocha

Por Nadia Cardoso

 

A estação de trem situada na Avenida Sebastião Gualberto, no bairro de Santana, para embarque e desembarque de passageiros, foi palco de diversas histórias. Inaugurada em 1925 foi cenário para amores possíveis e efêmeros; as partidas, festivas e cheias de luto; as chegadas, sombrias e tão seguras.

O apito do trem sinalizava o início do espetáculo de vidas comuns, que rapidamente se tornavam protagonistas na identificação rotineira de passageiros.

O relógio marcava 12h45, horário preciso da saída do próximo trem. Todos com bilhetes ticados, confortavelmente sentados, menos Maria, que sentia a agitação de seu coração... Ela tamborilava os dedos das mãos e, por dentro dos sapatos, os dos pés. Fingia que não se importava ao olhar dele, mas estava impressionada com a velocidade e a intensidade daquela atração mútua. Eram dois desconhecidos. Olhares fixos e sorrisos de canto. Amores eternos e tão efêmeros eram o “onde você esteve durante todo esse tempo?”.

O trem fez a sua primeira parada e toda a multidão que  cercava os dois desapareceu em questão de segundos. Duas cadeiras, uma ao lado da outra, procurando por dois corações cheios, mas de almas vazias. Era um gosto de melancia gelada, uma sensação de borboletas no estômago, tanta coisa ao mesmo tempo, que nem dava pra realmente sentir algo naquele tempo. É aquela música que lava a alma, e pingos de chuva numa tarde de sol.

Ela apressou-se e sentou primeiro. Seu coração batia estupidamente rápido e parecia-lhe uma martelada desnecessária em seu peito. O descompasso mudou até o ritmo do relógio, que a essa altura do campeonato, parecia não ter mais pressa. Como ficar assim por um amor de estação? Ele sentou ao seu lado e apoiou os braços nos joelhos, passando as mãos pela cabeça. Tudo aquilo era irreal demais para estar acontecendo em uma estação recém-inaugurada. Ela sabia que ele também estava desacreditado de toda aquela explosão de coisas. De repente, soa o som do homem sem rosto, anunciando a próxima estação.

Todo mundo ama alguém a mais, ou nunca amou. E daquela tormenta, ambos queriam ser salvos.

Ele hesitou e olhou para ela à procura de algum contato. Suas mãos estavam suadas e suas cordas vocais decidiram não funcionar. Sentia-se incapaz de dizer alguma coisa; ela queria que ele falasse, sabia que o desejo estava exalando de seus olhos, de seu corpo, de sua alma, de sua vida. Prova que o amor é pra quem não sabe o que quer.

E então ele levantou-se e vagarosamente caminhou até a porta. O trem foi parando lentamente e o coração parecia querer saltar. Ela viu pelo reflexo do espelho em suas mãos que ele a olhava com um grito de esperança dentro de si.

O amor entre eles foi o mais rápido e intenso que alguém pode ter em vida.

Ela podia ir atrás dele e ele podia ficar. A porta se abriu e ele caminhou para fora. Ela levantou. Ele se virou para dar uma última olhada, ambos com olhares suplicantes. A porta se fechou entre eles e depois disso não houve distância tão grande quanto aquela.

Nota da FCCR: De acordo com registros históricos, a estação central não se instalou no Banhado. A estação central de São José dos Campos localizava-se onde atualmente é a Estação de Tratamento da Sabesp, no final da avenida João Guilhermino. No Banhado, havia o trilho do trem e há registro de uma edificação que pode ou não ser propriedade da estação. As paradas existentes, inclusive no registro da Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA),  são as estações Central, Eugênio de Melo, Limoeiro, Martins Guimarães e a parada Lima, não havendo outro registro de estação ou parada na cidade.

 

Saiba mais no link: www.estacoesferroviarias.com.br/s/sjcampos.htm

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